Anna dos 6 aos 18 (Rússia, 1993)
Eu indico Anna: Ot shesti do vosemnadtsati (Rússia, 1993) O
O filme da minha vida (Brasil, 2017)
Na história, o jovem Tony decide retornar a Remanso, Serra Gaúcha, sua cidade natal. Ao chegar, ele descobre que Nicolas, seu pai, voltou para França alegando sentir falta dos amigos e do país de origem. Tony acaba tornando-se professor e vê-se em meio aos conflitos e inexperiências juvenis.
Borboletas, bicicletas e fotografias:
Até o momento, este filme representa o mais próximo que o cinema nacional pode chegar de Cinema Paradiso (Itália, 1988). A produção é baseado no livro “Um pai de cinema” de Antonio Skármeta, escritor chileno que também tem “O carteiro e o poeta” como obra, mais uma transformada num grande filme. Selton Mello dirige e também atua, dessa vez como um personagem coadjuvante. Na entrevista aqui em Salvador, quando veio para a pré-estreia de seu filme, ele disse o quanto é importante dirigir atores sabendo o que eles passam, suas dificuldades e anseios, já que ele passou muito por isso e é reconhecido como um excelente ator.
O roteiro é muito bom, os personagens são marcantes, o elenco ficou ótimo. Os atores Vicent Cassel e Selton Mello dispensam comentários, então vamos parabenizar as grandes presenças femininas (Ondina Clais, Bruna Linzmeyer, Bia Arantes, Martha Nowill), assim como a participação de Rolando Boldrin (o maquinista Giuseppe que tem uma das falas mais bonitas do filme). Cada um tem a sua história, personagens explorados com um bom cuidado pelo diretor. Mas a atenção maior vai para o protagonista, de nome forte (Tony Terranova), interpretado por Johnny Massaro, que brilha no filme. O escritor Antonio Skármeta também faz uma ponta, não vou contar qual o personagem. Acho importante essa presença do escritor durante as filmagens, pois não há conselheiro melhor para o roteiro.
Selton Mello afirma que decidiu fazer o filme após ler o livro, quando se emocionou com a história. Os títulos são diferentes e você vai entender bem o título do livro quando assistir ao filme. Lembrei um pouco de Cinema Paradiso (1988), o grande filme italiano e um dos meus favoritos, já que ambos fazem uma homenagem linda ao cinema e não posso contar mais a respeito. O filme tende a ser alvo de spoilers e não estou aqui para isso.
A base da história é o crescimento de Tony, sendo a ausência do pai o que mais o incomoda, o espectador vai sentir isso a cada gesto, palavras e lembranças do garoto. Apesar dessa amargura, ele leva uma vida de descobertas, prazeres, pequenas aventuras e outros sofrimentos, mas tudo volta a esse mistério, esse abandono que não faz sentido quando contemplamos as boas lembranças que ele tem do pai. Muitas cenas belas, como ele aprendendo com o pai a andar de bicicleta, ele contemplando garotas ensaiando para uma apresentação, ou a relação divertida com seus alunos e com seu amigo Paco (Selton Mello), assim como o carinho com a mãe, também amargurada.
O filme trata de erros e escolhas difíceis e a temática de desestruturação de uma família é uma das preferidas do diretor. Possui reviravoltas interessantes. A fotografia e produção ambientam impecavelmente a época, coisa de cinema de qualidade. Mostra, também, paisagens lindas ao redor do trem em movimento. Não houve gravação em estúdio, todas as cenas utilizaram locais reais alugados e, mesmo assim, o resultado foi uma ambientação perfeita de Remanso, Serra Gaúcha, nos anos 60. Roupas, costumes, tipos de conversa, enfim, somos transportados e presos nessa época, imersos no filme sem precisar de efeitos 3D.
Muita música de época também, brasileiras e francesas. Apesar de funcionar, passou um pouco do ponto, junto com algumas cenas que se arrastaram um pouco. Contudo, essa é uma falha que deve passar despercebida dentro de tantos acertos. Com certo ar de romance e poesia, o filme é um presente num momento que precisamos tanto de algo assim no mundo (acabei de roubar mais uma das falas de Selton Mello).
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